Apoiante de Manuela Ferreira Leite nas últimas eleições directas no PSD, Pedro da Vinha Costa falou ao "Matosinhos Hoje" sobre a actuação da Comissão Política Concelhia e a escolha do candidato do partido.
Pedro da Vinha Costa, advogado de 47 anos, trocou há seis anos o Porto pela Senhora da Hora. Militante do PSD desde 1974, foi deputado e vice-presidente da Comissão Política Distrital do Porto do PSD. Foi membro da Comissão Política Nacional do PSD com Marcelo Rebelo de Sousa e com Luís Marques Mendes, de quem foi chefe de gabinete no partido.
MH- 2009 é ano de eleições autárquicas. No caso concreto de Matosinhos, o PSD poderá sair beneficiado com esta divisão no PS, entre Narciso Miranda e Guilherme Pinto?
PVC- A mim não me preocupa nada os problemas na casa dos outros. Problemas entre o Sr. Narciso Miranda e o Dr. Guilherme Pinto são problemas que eles hão-de resolver lá no PS, mas eu também não vivo bem por causa dos problemas da casa dos outros.
É com alguma preocupação que eu vejo que algumas pessoas no PSD, e designadamente a Concelhia do PSD de Matosinhos, parecem estar à espera que, de repente, aconteça aqui uma situação milagrosa que é, no fundo, este cenário: Guilherme Pinto candidato pelo PS, Narciso Miranda candidato independente, vão tirar votos um ao outro e o PSD, sem subir a sua votação, acaba por ganhar as eleições só porque os outros descem, porque dividem os votos.
Em primeiro lugar, acho que isto é muito pouco ambicioso. Em segundo lugar, acho que isto é muito perigoso. O que pode acontecer, se o PSD continuar a não existir enquanto força política de Matosinhos, como tem acontecido até aqui, é que seja o PSD a perder pontos para a candidatura de Narciso Miranda ou de Guilherme Pinto e não o contrário.
Pode acontecer que o PSD, em vez de ganhar com isso, possa correr mesmo o risco de deixar de ser a segunda força política e passar a ser a terceira ou a quarta.
O Partido Socialista tem um projecto esgotado em Matosinhos. É um projecto com trinta e tal anos. É quase uma situação terceiro mundista ou de inexistência de alternância de poder.
Mesmo nessas circunstâncias, quem aspira a ser poder tem que ter propostas alternativas. Só existe alternância quando há alternativa.
O PSD tem que se constituir como alternativa a este poder socialista, seja ele corporizado por Guilherme Pinto ou por Narciso Miranda, porque ambos têm responsabilidades naquilo que se passou nos últimos anos em Matosinhos.
O PSD tem que ter posição sobre os grandes problemas do concelho e é isso que eu não vejo o PSD ter. Vejo o PSD a fazer a distribuição de cabazes de Natal aos mais carenciados do concelho, o que acho muito louvável, vejo o PSD a organizar umas acções que poderiam ser organizadas pelo Bloco de Esquerda como distribuir panfletos na rua. Não vejo o PSD a dizer o que pensa sobre a refinaria de Leça da Palmeira, não vejo o PSD a dizer o que pensa sobre a questão do ambiente no concelho. Não é o PSD vir dizer que aumentou a criminalidade. Espera-se que um partido político denuncie a situação, mas que apresente alternativas e soluções. Sobre isso o PSD não diz nada, nem tem propostas nem tem rostos.
Os rostos do PSD em termos autárquicos no concelho pura e simplesmente não exis- tem. O PSD tem três vereadores no executivo camarário, um dos quais é vereador há três ou quatro mandatos. Não se percebe muito bem porquê e o que é que tem feito. Mas o problema não é o Sr. Nelson Cardoso. O problema é o PSD que não é capaz de gerar rostos no concelho.
MH- Porquê?
PVC- O PSD não tem posições concretas sobre as grandes questões. Matosinhos é um concelho que sociologicamente se alterou muito nos últimos anos. Hoje, a composição sociológica do concelho de Matosinhos resulta muito de um movimento migratório idêntico àquele que eu fiz: vim do Porto viver para Matosinhos.
O PSD, como todos os partidos, tem de ser capaz de perguntar o que é que estas pessoas querem. As pessoas vêm para Matosinhos porquê? Na maior parte dos casos, porque a relação qualidade/preço na habitação é melhor do que aquela que encontram no Porto.
A partir daqui, o que é que Matosinhos tem para dar? O que as pessoas querem é qualidade de vida.
Matosinhos tem de saber aproveitar a sua localização, o facto de ter um porto de mar e de estar às portas de um aeroporto, o facto de estar ao lado de uma cidade como o Porto.
MH- Acha que a Comissão Política Concelhia do PSD de Matosinhos não tem estado bem?
PVC- Acho que a Concelhia do PSD de Matosinhos não existe. Tem uma perspectiva da política igual à da associação paroquial de solidariedade social. Politicamente, a Concelhia do PSD é zero. Não tem uma ideia, não tem uma proposta, não tem a noção do que é um projecto político para um concelho como Matosinhos, nem para uma junta de freguesia.
Tem ainda um outro problema em matéria de escolha dos candidatos. Confesso que tenho alguma curiosidade para ver. A presidente da Concelhia, a Dr.ª Clarisse de Sousa, apoiou o Dr. Luís Filipe Menezes, que defendia a ideia das primárias para a escolha dos candidatos. Depois, a Dr.ª Clarisse de Sousa apoiou o Dr. Pedro Passos Coelho nas últimas eleições, que sobre isso não disse nada. Quem ganhou foi a Dr.ª Manuela Ferreira Leite, que sobre isso tem uma posição contrária. Eu não sei como a Dr.ª Clarisse de Sousa pensa fazer a escolha dos candidatos autárquicos.
Confesso que acho que isto não é um problema para a Dr.ª Clarisse, porque a Dr.ª Clarisse nem sequer pensa nisso. Espera que a Distrital do Porto lhe dê ordens e espera principalmente que, dessa dicotomia entre o Sr. Narciso Miranda e o Dr. Guilherme Pinto, possa surgir o brinde para o PSD. Tal como disse, temo que, em vez do brinde do bolo-rei, nos saia a fava.
Para além disso, a Dr.ª Clarisse tem um outro problema. A incapacidade total de pensar politicamente as coisas, de definir uma política global para o concelho.
O PSD tem ainda outro problema em Matosinhos, que é a escolha do candidato. Como acho que a Dr.ª Clarisse tem um só objectivo, que é o nome dela integrar as listas... Para quê? Tanto faz. Para defender o quê? É irrelevante. A Dr.ª Clarisse é alguém que está à beira de atingir um grande sonho e está completamente deslumbrada com essa possibilidade. Não quer, portanto, saber o que é que vai acontecer. Desde que ela lá esteja, o resto é irrelevante.
MH- O candidato do PSD à Câmara Municipal deve ser de Matosinhos?
PVC- Não acho que isso seja importante, mas deve ser alguém que os matosinhense reconheçam como uma pessoa capaz de dirigir um concelho de Matosinhos. Não interessa nada ter alguém muito conhecido e a quem as pessoas não reconhecem ter a capacidade de gerir seja o que for. Tem de ser uma pessoa identificada com os problemas do concelho. Não basta ser uma pessoa que conheça bem a região ou a Área Metropolitana do Porto. Tem que ser alguém que conheça bem a realidade de Matosinhos.
MH- Quem está melhor posicionado para ser candidato?
PVC- Avançar com nomes é começar a construir a casa pelo telhado. O PSD não pode aparecer daqui a seis meses e dizer: temos aqui o candidato e temos aqui as soluções para o concelho. Nenhum matosinhense acredita nisso.
MH- Marco António Costa e Agostinho Branquinho são cartas em cima da mesa?
PVC- O Dr. Agostinho Branquinho é uma pessoa estimável, um deputado muito bom, mas que, do ponto de vista autárquico está solto. O Dr. Marco António está preso a Gaia.
MH- Pondera hipótese de avançar com uma candidatura à Comissão Política Concelhia do PSD?
PVC- Fui candidato há cinco anos. Continuo a achar que o projecto que liderei tem validade. Há uma Concelhia que foi eleita. Se não tiver condições para cumprir o seu mandato até ao fim, deve fazer como o Dr. Luís Filipe Menezes. Demitir-se e convocar eleições. Nessa altura, se verá como são as coisas.
In Matosinhos Hoje, 17.06.2008
Pedro da Vinha Costa, advogado de 47 anos, trocou há seis anos o Porto pela Senhora da Hora. Militante do PSD desde 1974, foi deputado e vice-presidente da Comissão Política Distrital do Porto do PSD. Foi membro da Comissão Política Nacional do PSD com Marcelo Rebelo de Sousa e com Luís Marques Mendes, de quem foi chefe de gabinete no partido.
MH- 2009 é ano de eleições autárquicas. No caso concreto de Matosinhos, o PSD poderá sair beneficiado com esta divisão no PS, entre Narciso Miranda e Guilherme Pinto?
PVC- A mim não me preocupa nada os problemas na casa dos outros. Problemas entre o Sr. Narciso Miranda e o Dr. Guilherme Pinto são problemas que eles hão-de resolver lá no PS, mas eu também não vivo bem por causa dos problemas da casa dos outros.
É com alguma preocupação que eu vejo que algumas pessoas no PSD, e designadamente a Concelhia do PSD de Matosinhos, parecem estar à espera que, de repente, aconteça aqui uma situação milagrosa que é, no fundo, este cenário: Guilherme Pinto candidato pelo PS, Narciso Miranda candidato independente, vão tirar votos um ao outro e o PSD, sem subir a sua votação, acaba por ganhar as eleições só porque os outros descem, porque dividem os votos.
Em primeiro lugar, acho que isto é muito pouco ambicioso. Em segundo lugar, acho que isto é muito perigoso. O que pode acontecer, se o PSD continuar a não existir enquanto força política de Matosinhos, como tem acontecido até aqui, é que seja o PSD a perder pontos para a candidatura de Narciso Miranda ou de Guilherme Pinto e não o contrário.
Pode acontecer que o PSD, em vez de ganhar com isso, possa correr mesmo o risco de deixar de ser a segunda força política e passar a ser a terceira ou a quarta.
O Partido Socialista tem um projecto esgotado em Matosinhos. É um projecto com trinta e tal anos. É quase uma situação terceiro mundista ou de inexistência de alternância de poder.
Mesmo nessas circunstâncias, quem aspira a ser poder tem que ter propostas alternativas. Só existe alternância quando há alternativa.
O PSD tem que se constituir como alternativa a este poder socialista, seja ele corporizado por Guilherme Pinto ou por Narciso Miranda, porque ambos têm responsabilidades naquilo que se passou nos últimos anos em Matosinhos.
O PSD tem que ter posição sobre os grandes problemas do concelho e é isso que eu não vejo o PSD ter. Vejo o PSD a fazer a distribuição de cabazes de Natal aos mais carenciados do concelho, o que acho muito louvável, vejo o PSD a organizar umas acções que poderiam ser organizadas pelo Bloco de Esquerda como distribuir panfletos na rua. Não vejo o PSD a dizer o que pensa sobre a refinaria de Leça da Palmeira, não vejo o PSD a dizer o que pensa sobre a questão do ambiente no concelho. Não é o PSD vir dizer que aumentou a criminalidade. Espera-se que um partido político denuncie a situação, mas que apresente alternativas e soluções. Sobre isso o PSD não diz nada, nem tem propostas nem tem rostos.
Os rostos do PSD em termos autárquicos no concelho pura e simplesmente não exis- tem. O PSD tem três vereadores no executivo camarário, um dos quais é vereador há três ou quatro mandatos. Não se percebe muito bem porquê e o que é que tem feito. Mas o problema não é o Sr. Nelson Cardoso. O problema é o PSD que não é capaz de gerar rostos no concelho.
MH- Porquê?
PVC- O PSD não tem posições concretas sobre as grandes questões. Matosinhos é um concelho que sociologicamente se alterou muito nos últimos anos. Hoje, a composição sociológica do concelho de Matosinhos resulta muito de um movimento migratório idêntico àquele que eu fiz: vim do Porto viver para Matosinhos.
O PSD, como todos os partidos, tem de ser capaz de perguntar o que é que estas pessoas querem. As pessoas vêm para Matosinhos porquê? Na maior parte dos casos, porque a relação qualidade/preço na habitação é melhor do que aquela que encontram no Porto.
A partir daqui, o que é que Matosinhos tem para dar? O que as pessoas querem é qualidade de vida.
Matosinhos tem de saber aproveitar a sua localização, o facto de ter um porto de mar e de estar às portas de um aeroporto, o facto de estar ao lado de uma cidade como o Porto.
MH- Acha que a Comissão Política Concelhia do PSD de Matosinhos não tem estado bem?
PVC- Acho que a Concelhia do PSD de Matosinhos não existe. Tem uma perspectiva da política igual à da associação paroquial de solidariedade social. Politicamente, a Concelhia do PSD é zero. Não tem uma ideia, não tem uma proposta, não tem a noção do que é um projecto político para um concelho como Matosinhos, nem para uma junta de freguesia.
Tem ainda um outro problema em matéria de escolha dos candidatos. Confesso que tenho alguma curiosidade para ver. A presidente da Concelhia, a Dr.ª Clarisse de Sousa, apoiou o Dr. Luís Filipe Menezes, que defendia a ideia das primárias para a escolha dos candidatos. Depois, a Dr.ª Clarisse de Sousa apoiou o Dr. Pedro Passos Coelho nas últimas eleições, que sobre isso não disse nada. Quem ganhou foi a Dr.ª Manuela Ferreira Leite, que sobre isso tem uma posição contrária. Eu não sei como a Dr.ª Clarisse de Sousa pensa fazer a escolha dos candidatos autárquicos.
Confesso que acho que isto não é um problema para a Dr.ª Clarisse, porque a Dr.ª Clarisse nem sequer pensa nisso. Espera que a Distrital do Porto lhe dê ordens e espera principalmente que, dessa dicotomia entre o Sr. Narciso Miranda e o Dr. Guilherme Pinto, possa surgir o brinde para o PSD. Tal como disse, temo que, em vez do brinde do bolo-rei, nos saia a fava.
Para além disso, a Dr.ª Clarisse tem um outro problema. A incapacidade total de pensar politicamente as coisas, de definir uma política global para o concelho.
O PSD tem ainda outro problema em Matosinhos, que é a escolha do candidato. Como acho que a Dr.ª Clarisse tem um só objectivo, que é o nome dela integrar as listas... Para quê? Tanto faz. Para defender o quê? É irrelevante. A Dr.ª Clarisse é alguém que está à beira de atingir um grande sonho e está completamente deslumbrada com essa possibilidade. Não quer, portanto, saber o que é que vai acontecer. Desde que ela lá esteja, o resto é irrelevante.
MH- O candidato do PSD à Câmara Municipal deve ser de Matosinhos?
PVC- Não acho que isso seja importante, mas deve ser alguém que os matosinhense reconheçam como uma pessoa capaz de dirigir um concelho de Matosinhos. Não interessa nada ter alguém muito conhecido e a quem as pessoas não reconhecem ter a capacidade de gerir seja o que for. Tem de ser uma pessoa identificada com os problemas do concelho. Não basta ser uma pessoa que conheça bem a região ou a Área Metropolitana do Porto. Tem que ser alguém que conheça bem a realidade de Matosinhos.
MH- Quem está melhor posicionado para ser candidato?
PVC- Avançar com nomes é começar a construir a casa pelo telhado. O PSD não pode aparecer daqui a seis meses e dizer: temos aqui o candidato e temos aqui as soluções para o concelho. Nenhum matosinhense acredita nisso.
MH- Marco António Costa e Agostinho Branquinho são cartas em cima da mesa?
PVC- O Dr. Agostinho Branquinho é uma pessoa estimável, um deputado muito bom, mas que, do ponto de vista autárquico está solto. O Dr. Marco António está preso a Gaia.
MH- Pondera hipótese de avançar com uma candidatura à Comissão Política Concelhia do PSD?
PVC- Fui candidato há cinco anos. Continuo a achar que o projecto que liderei tem validade. Há uma Concelhia que foi eleita. Se não tiver condições para cumprir o seu mandato até ao fim, deve fazer como o Dr. Luís Filipe Menezes. Demitir-se e convocar eleições. Nessa altura, se verá como são as coisas.
In Matosinhos Hoje, 17.06.2008
Sem comentários:
Enviar um comentário