Narciso Miranda contra PS

Ex-autarca anuncia recandidatura à presidência da câmara Socialistas vão repartir votos entre o candidato oficial e o ex-autarca O antigo presidente da Câmara de Matosinhos Narciso Miranda anunciou sexta-feira à noite, perante mais de quatro centenas de militantes socialistas, que vai recandidatar-se à liderança daquele município, enfrentando o candidato oficial do partido. Uma decisão "definitiva e irreversível", disse ontem ao DN, escusando-se, "para já", a fazer mais declarações sobre o assunto.
Foi durante um jantar num restaurante do concelho, organizado por militantes de base do PS, que Narciso Miranda declarou: "Vou ser candidato por Matosinhos, que perdeu a voz, afirmação, credibilidade e liderança". Consciente de que esta posição pode valer-lhe a expulsão do partido onde sempre militou, o ex-autarca disse que a sua "fidelidade é com o projecto ideológico do Partido Socialista e com as gentes de Matosinhos" e "não com quem no partido não tem memória nem princípios".
Segundo fontes presentes na sala, com capacidade para 350 lugares sentados, "mas onde compareceram 420 pessoas, quase todas filiadas no PS para apoiar esta candidatura" às eleições autárquicas do próximo ano, Narciso Miranda foi muito crítico para com os actuais dirigentes, quer nacionais quer locais, referindo que "enquanto [ele] andava a lutar pelo PS, outros andavam noutros partidos ou projectos". E disparou: "Eu não mudei, eles é que mudaram. Eu continuo a ser socialista".
Na declaração que fez, Narciso Miranda disse que entra nesta corrida "respondendo humildemente ao desafio dos militantes" e "com sentido de responsabilidade, dever e rigor ético e moral". É que, frisou, "no PS e na política não pode valer tudo", explicando que , há três anos, o aparelho tratou-o mal e mentiu-lhe. Mas, sobretudo, não perdoa que o PS tenha tratado mal com povo de Matosinhos". Por isso, sublinhou, esta candidatura é irreversível, "nem que o Papa venha pedir o contrário".
O anúncio de Narciso Miranda em recandidatar-se à Câmara que desde 1977 e ao logo de três décadas conquistou para o PS, tendo aceite afastar-se da corrida nas últimas eleições após os confrontos entre facções rivais do partido no concelho na lota da cidade durante a campanha para as europeias de 2004 - que culminaram com a morte, por paragem cardíaca, de Sousa Franco - provocou de imediato reacções dos dirigentes do partido, que temem uma divisão de votos entre o eleitorado socialista. O porta-voz do PS, Vitalino Canas, referiu que o partido "recandidatará" o actual "presidente da Câmara", Guilherme Pinto, que "tem feito um excelente trabalho".
Também o líder do PS/Porto, Renato Sampaio, desvalorizou o anúncio. "É a sexta ou sétima vez que o meu camarada Narciso Miranda diz que se vai candidatar como independente a presidente da Câmara de Matosinhos. Não vou dizer a mesma coisa pela sexta ou sétima vez", disse. Este dirigente espera que o ex-autarca acate as decisões do partido, cuja federação distrital decidiu recandidatar todos os actuais presidentes de câmara do distrito, incluindo Guilherme Pinto em Matosinhos.